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O município

História do Municipio

Rosário do Catete: terra de governadores


Naquele pequeno município se encontram as mais importantes histórias políticas que marcaram Sergipe

Não fossem os vendedores de milho, o viajante que corta a BR-101, de Aracaju a Propriá, não se perceberia a entrada de Rosário do Catete. Quem passa por ali jamais imagina que aquele município já foi um dos mais importantes palcos da história de Sergipe.

Foi em terras rosarenses que nasceu João Gomes de Melo, o Barão de Maruim. Em Rosário foi assinada a ata de mudança da capital de São Cristóvão para Aracaju. Saíram de lá, Maynard Gomes, Leandro Maciel e Luiz Garcia, todos governadores de Sergipe, além de inúmeros políticos, juristas, professores e músicos. Rosário é pura história.

E essa história começa em 1575, quando da primeira tentativa de conquista de Sergipe por Luiz de Brito, governador da Bahia. É a referência mais antiga. Bem próximo ao local em que a atual cidade se encontra, existia uma aldeia de índios. Eles viviam às margens de um rio e sob o comando do índio Siriry.

Histórica estação de trem de Rosário

RESISTÊNCIA E NOME

Historiadores dizem que o exército de Luiz de Brito não conseguiu vencer os índios. Mas em 1587, os invasores europeus, comandados por Cristóvão de Barros, retornaram e arrasaram com a resistência. Siriry não se rendeu ao fogo dos soldados nem à cruz dos jesuítas, e acabou sendo morto em luta.

Aos vencedores, Cristóvão deu terras. Em 9 de abril de 1590, ele passou para seu filho, Antônio Cardoso de Barros, o território que ficava entre os rios Cotinguiba e São Francisco. Rosário estava dentro dessa faixa. Depois de sua morte, as terras foram repassadas. Boa para a plantação de cana-de-açúcar, essa cultura se instalou ali com força.

Não existe uma data, mas se sabe que um grupo de negros que trabalhava nos engenhos encontrou uma imagem de Nossa Senhora do Rosário numa das matas da região. Ela teria sido deixada pelos jesuítas. O proprietário do Engenho Jordão, Jorge de Almeida Campos, acabou doando terreno para que uma capela fosse construída e colocada a imagem da santa. Nasce, então, a Aldeia de Nossa Senhora do Rosário.

BRIGA E POR QUE CATETE?

Por conta da cana, grandes senhores de terras de Maruim também tinham negócios em Rosário. A povoação rosarense crescia tanto que, por volta de 1828, a Câmara de Santo Amaro resolveu transferir para Rosário a sede do município de Maruim. Os habitantes de Santo Amaro e Maruim declararam guerra entre si.

O Governo da província acabou intervindo e ratificando a decisão da Câmara de Santo Amaro. De uma canetada só, a povoação de Rosário do Catete passava à freguesia, vila e sede de município. Mas isso durou pouco. As reações de Maruim foram fortes. Em 3 de fevereiro de 1831, Rosário volta a pertencer a Santo Amaro, mas não como povoamento, e sim, como Freguesia de Nossa Senhora do Rosário. Cinco anos depois, ela se tornava Vila de Nossa Senhora do Rosário do Catete.

Nada, absolutamente nada de oficial existe para explicar o nome Catete, mas existem indícios fortes. Catete é uma espécie de milho comum na região. Catete vem de caititu (Tupi-Guarani) que quer dizer “porco do mato”, animal encontrado naquelas terras. Catete significa reduto de escravos (em Rosário eles eram milhares). E catete era nome de um dos engenhos do Barão de Maruim. Em 12 de julho de 1932, Rosário do Catete era elevada à categoria de cidade.

TERRA DE POLÍTICOS

Além do Barão de Maruim, o município de Rosário do Catete foi um verdadeiro celeiro político. Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel foi deputado no Império e senador na República. Mais tarde, seu filho, Leandro Maynard Maciel, seria governador do Estado. Outra figura marcante foi Augusto Maynard Gomes, amigo pessoal de Getúlio Vargas. Foi interventor, general do Exército, governador e senador por duas vezes. É considerado o maior orgulho da cidade.

O líder máximo da UDN - União Democrática Nacional - foi Leandro Maynard Maciel. O ‘Leandrismo’ marcou a política de Sergipe. Ele ingressou na vida pública no Governo Manoel Dantas. Foi por diversas vezes deputado federal, senador e governador por duas vezes. Foi ele quem ligou com asfalto Aracaju a Atalaia e desmontou o morro do Bonfim, além de dotar Aracaju de abastecimento de água. Em 1960 foi indicado para ser vice-presidente da República na chapa de Jânio Quadros, mas renunciou em favor de Milton Campos. Encerrou sua vida pública quando perdeu as eleições para Gilvan Rocha.

Outro filho ilustre de Rosário é o governador Luiz Garcia. Foi ele quem criou o Banese, Hotel Palace e o Terminal Rodoviário que leva seu nome, além de ser um dos fundadores da Universidade Federal de Sergipe. É membro da Academia Sergipana de Letras, foi promotor público, deputado estadual e federal. Seu lema de Governo era curioso: “Mais pão e mais vestuário para a família do servidor público”. Seu filho, Gilton Garcia, seguiu seus passos políticos.

Edézio Vieira de Melo é outro filho de Rosário do Catete, que chegou a deputado estadual e vice-governador. Ainda existe Manoel Cabral Machado, que foi deputado, escritor e vice-governador. Rosário foi tão importante que em apenas uma legislatura chegou a ter um senador, dois deputados federais, três deputados estaduais e um governador.

Uma das sumidades nascidas naquele município é Maximino de Araújo Maciel. Era advogado, médico e filólogo. Escreveu entre outras obras “Gramática Analytica”, “Philologia Portuguêsa” e “Lição de Botânica Geral”. Outra personalidade é Alvino Ferreira Lima, que foi professor da Faculdade de Direito de São Paulo. Ainda saíram de lá desembargadores como Maynard, Humberto Diniz Sobral e José Sotero Vieira de Melo, e uma infinidade de juízes.

 

Cruz do Evaristo e mudança do nome para ‘Marynardina’

Existem alguns episódios marcantes na história desse município. Quando Rosário do Catete ficou independente de Santo Amaro, em 1836, as relações das duas comunidades ficaram estremecidas. Um dia, um soldado negro conhecido por Evaristo saiu de Santo Amaro com um cesto de peixes para vender em Rosário. Em terras rosarenses, o soldado foi assassinado. Em sua homenagem, foi erguida uma capela com uma cruz. Em volta da capela surgiu uma povoação que depois engrossou o município de Rosário do Catete. A Cruz do Evaristo então se tornou um marco da independência de Rosário do Catete.

Outro fato curioso nesse município é a tentativa de mudança de nome. Na gestão do prefeito Otacílio Vieira de Melo, em 1945, apareceu a idéia de mudar o nome da cidade de Rosário do Catete para Marynardina. Alguns diziam que o prefeito queria homenagear o filho mais ilustre, Augusto Maynard Gomes, que foi general do Exército, interventor, duas vezes senador e até governador de Sergipe.

Mas os opositores revelam uma história nada convencional. Alguns diziam que Mary era uma amante que o governador mantinha no Rio de Janeiro e em sua homenagem daria o nome à cidade. Graças à resistência de intelectuais como João Moraes, José Paes, Sebrão Sobrinho e Polycarpo Diniz, a mudança do nome não foi efetivada.

 

Mudança da capital de São Cristóvão para Aracaju aconteceu em Rosário

No final de 1854, o Barão de Maruim era vice-presidente do Estado. Um homem de grandes influências nacionais. Por conta do porto (escoamento dos produtos), o barão queria que a capital saísse de São Cristóvão e foi transferida para Aracaju.

Numa manhã, o Barão de Maruim, um dos homens mais ricos do Estado, convocou todos os deputados para comparecer em seu Engenho Unha do Gato, em Rosário do Catete. Usando dinheiro, seu poder de convencimento foi total. No Unha do Gato, o barão instalou a Assembléia Provincial e os deputados votaram pela transferência da capital de São Cristóvão para Aracaju.

Por ordem de um mensageiro, o barão pediu que o presidente do Estado, Ignácio Joaquim Barbosa, fosse ao Engenho Unha do Gato sem comunicar a ninguém, e lá assinou a transferência da capital. Essa ata de mudança existe até hoje em mãos de historiadores.

 

A terra das bandas de música

Além da política e da área jurídica, Rosário do Catete também é terra das bandas de música. A primeira de que se tem notícia é de 1906. Era chamada de Coração de Maria e apelidada de “Injeitada”. Seus mestres foram o padre Antônio Garcia, Otacílio Paiva e Antônio Bonfim, entre outros.

Em 1923 surge a banda Santa Cecília, mais conhecida como “Barriguda”. O seu fundador foi João Batista de Morais Ribeiro. A curiosidade é que entre seus mestres estava Polycarpo Diniz de Rezende, que foi sete vezes prefeito de Rosário do Catete.

Em 1950 é fundada a banda União Rosarense, que tinha como regente Siciliano Avelino da Cruz. Mas Rosário marca a história das bandas de música em 1960, quando o regente Antônio Plínio do Espírito Santo resolve criar a Associação Maria Rosa Vieira de Melo, a primeira banda feminina de Sergipe. Uma ousadia.

O professor de teoria e solfejo da banda feminina era Luiz Ferreira Gomes, hoje uma história viva de Rosário do Catete. Seu Luiz é um rosarense nato. Um homem de memória privilegiada e que merece os maiores elogios e reconhecimentos do povo de Rosário e de Sergipe.

Um outro filho daquele município que deve merecer as maiores homenagens é João Batista de Morais Ribeiro. Este já falecido. Foi um exímio mestre de alfaiate. Vestiu as famílias mais tradicionais de Sergipe. Foi servidor público federal, vereador e prefeito. Músico de primeira grandeza sem ter jamais estudado música. Um gênio. A poesia era a sua maior paixão. Publicou o livro “Canções de um solitário”.

Rosário do Catete hoje

  • Região - Centro de Sergipe
  • Distância de Aracaju - 37 km
  • População - Cerca de 8 mil
  • Atividades econômicas - Milho e feijão. Rosário tem a maior reserva de potássio da América do Sul

Texto: Cristian Góes
Fotos e reproduções: Manoel Ferreira
Fonte: Arquivo Público de Rosário do Catete, Enciclopédia dos Municípios Brasileiros e colaboração de Luiz Ferreira Gomes, Adailton Andrade e Lúcia Marque